Entrei em casa, dirigi-me para a sala e encostei o carrinho do Matheus, que dormia serenamente, ao lado do sofá.
-Filha tens uma visita!-Assim que levantei a cabeça, vi quem menos esperava.
-Olá!-Era Ezequiel que estava ali sentado no sofá. Levantou-se e encarou-me, ficámos com os olhos postos um no outro. Nenhum de nós reagia.
-Eu deixo-vos à vontade para falarem.-Disse a minha mãe, despertando-nos.
-Obrigada mãe.-Ela saiu. Coloquei a chucha ao Matheus e voltei a encarar o Ezequiel.
-O que é que fazes aqui?-Perguntei da forma mais fria. Não conseguia ser de outra maneira com a pessoa que tinha desistido de mim.
-Soube hoje que tinhas voltado e que aquele cabrão foi preso.
-Escusas de ver com essa conversa de quem está preocupado e revoltado porque eu não acredito em nada.
-Madalena...
-Eu sei de tudo. Tu desististe de mim, tu desapareceste!-Disse em tom de raiva.
-Isso é mentira! Eu só me quis afastar para não arranjar problemas.
-E onde é que estava a pessoa que prometeu à minha mãe que ia estar sempre lá e que a ia ajudar a encontrar-me? Onde?-Ele sentou-se de novo no sofá, colocando as mãos na cara.
-Eu...sei lá pensei que tivesses recuado. Insisti contigo naquela manhã, pensei que te tivesses afastado.
-Isso não é desculpa. Tu sabias que havia a hipótese de acontecer o que aconteceu. Mas não, tu seguiste com a tua vida para a frente e eu vou fazer o mesmo.
-Tu sabes?
-Sei que que bastaram 6 meses para me esqueceres. Ouvi uns rumores mas se for verdade, espero que sejas muito feliz!
-Mas...
-Mas nada! Estás à vontade para seguir a tua vida!-Levantei-me do sofá e fui até ao carrinho, onde peguei o Matheus ao colo.- Agora só temos uma coisa que nos une, o nosso filho!-Assim que terminei a frase, o Ezequiel levantou a cabeça muito espantado.
-Nosso filho?
-Sim, naquela noite...
-Tu não me ias contar nada?
-Sabia que ias voltar. Não pensei é que fosse tão cedo.
-Posso pegar?-Coloquei o Matheus nos braços dele e afastei-me um pouco. Achei que devia ser um momento de pai e filho apenas.-E agora?-Perguntou alguns minutos depois.
-Agora o que?
-A nossa vida...
-Podes vê-lo sempre que quiseres.
-Eu sempre quis ser pai mas não queria que fosse assim. Vou perder muitas coisas do crescimento dele.
-E...há uma coisa que eu queria falar contigo.
-Diz.
-Eu estou a pensar sair de Portugal.
-Não! Não podes!
-Posso!
-E eu fico sem ver o meu filho?
-Podes ir visitar-nos!
-Não! Vai ser muito mais difícil!
-Pára de pensar só em ti! Pensa no que eu passei, eu preciso de me afastar daqui!
-Eu não mudo a minha opinião! Eu apresento queixa de ti se sais de portugal com ele!
-O que?-Tirei o Matheus do colo dele e fui até à porta.-Sai daqui por favor!
-Eu saio mas podes ter a certeza que eu não estava a brincar!-Ele saiu e eu fechei a porta. Não acreditava nas palavras dele mas mesmo assim fiquei preocupada.
-O que é que aconteceu?-Perguntou a minha mãe, entrando na sala.
-Preciso de sair daqui! Quero sair de Portugal!
-Calma!
-Preciso de mudar de ares por uns tempos.
-Estás a pensar ir para casa dos teus tios em Madrid?
-Não. Isso ia-me fazer lembrar do Ezequiel.
-Sim, tens razão.
-Tenho que escolher um sítio. Vou pensar nos próximos dias.
-Queres que eu vá contigo?
-Tu tens as tuas coisas aqui, o teu trabalho, as tuas amigas...
-E o que isso importa em comparação com a minha filha?
-A sério?
-Mas só se tu quiseres e precisares de mim.
-Claro que quero! Vai ser importante ter o teu apoio.-Respondi, abraçando-a.
-Daqui a uns dias, começamos uma nova vida!
-Espero que seja melhor!
-Vai ser!
-Vou dar de mamar ao Matheus, depois podes adormecê-lo?
-Sim.- Assim que acabei de lhe dar de mamar, deixei-o com a minha mãe e subi ao meu quarto. Estava na altura de começar a procurar uma cidade para viver durante um tempo. Estava mais que decidido que seria em Espanha por ser mais perto de Portugal. Depois de muita pesquisa e de excluir algumas opções sobrava-me Granada e Getafe. Duas cidades pequenas. Mas a minha escolha acabou por recair sobre Getafe (uma pequena cidade de Madrid). Eu precisava de um sítio calmo para recuperar a minha vida e a minha felicidade. Depois de mais algumas pesquisas, procurei a minha mãe que estava na sala.
-Mãe...-Falei baixinho pois o Matheus dormia serenamente no colo dela.
-Sim?
-Que achas disto?-Coloquei algumas folhas em cima da mesa enquanto a minha mãe foi pôr o menino na alcofa. Já tinha hotel para os primeiros dias, uma ideia da possível casa para morar e, também, uma universidade para continuar a estudar.
-Pensaste em tudo! Mas...
-Mas?
-Sabes que não vai ser fácil eu encontrar trabalho assim que lá chegar,
-Sei mas enquanto não começarem as aulas eu posso começar a trabalhar e secalhar consigo conciliar as duas coisas.
-Quando lá estivermos logo vemos. Quando é que vamos?
-Dois dias?
-Dois dias?
-Se não te importares...
-Não! Vamos nesta aventura!
-E um dia voltamos!
-Só quero que recuperes o teu sorriso e que sejas feliz!-Disse a minha mãe dando-me um beijo na testa.
No Dia Seguinte...
Levantei-me eram 11h, dei de mamar ao Matheus e coloquei-o na alcofa. Peguei num iogurte e sai em direcção ao aeroporto. Não existiam passagens para daqui a dois dias mas para amanhã de manhã (as últimas duas). Não podia adiar. Voltei a casa onde a minha mãe já preparava o almoço.
-Voltei!
-Já tens as passagens?
-Já mas é para amanhã.
-Amanhã ou depois é igual. Já fiz a minha mala.
-Eu não. Faço logo à noite.
-Eu à tarde vou despedir-me das minhas amigas.-Disse a minha mãe.
-E eu do Lisandro que me tem apoiado muito nestes dias.
-Lisandro é o rapaz que tem aparecido aí na baía?
-Sim.
-Amigo ou...
-Ou nada!Não quero nada mais que isso neste momento.
Algumas Horas Depois....
Assim que cheguei à baía esperei apenas alguns minutos até que o Lisandro chegasse. Como nos outros dias, ele vinha bem disposto e sempre sorridente.
-Buenas Tardes!
-Boa Tarde!
-Então a que se deve este convite?
-Quero-me despedir de ti! E agradecer-te por tudo, o teu apoio nestes três dias foi muito importante!
-Calma, calma! Despedir?
-Sim, segui a tua sugestão. Vou mudar de ares!
-Que pena!
-Que pena?
-Sim. Estava a gostar de te conhecer. E pensei que estávamos a construir uma boa amizade.
-E estamos. E vamos continuar a construir mas com alguns quilómetros de distância.
-Vais para onde?
-Getafe em Madrid. E tu já sabes se ficas?
-Ainda não.
-Pode ser que não vá para muito longe.
-Longe ou perto nem penses que te livras de mim. És um bom ouvinte e...esse sorriso contagia toda a gente.
-És tão querida!-Disse dando-me um beijo na bochecha.-Que achas de irmos dar uma volta?
-Posso escolher o sítio?
-Sim. Eu não conheço nada. Só o caminho do centro de treinos para casa.
-Vamos lá então!-Coloquei o ovo do Matheus no carro do Lisandro e seguimos caminho. Em 15 minutos, chegámos ao destino. Não era nada de especial mas tinha uma vista linda.
-Que vista linda!
-Depois da baía, é o meu segundo lugar preferido para espairecer!
-Obrigado!
-De quê?
-Por me trazeres a estes sítios. Por teres cabeça para me aturar depois do que te aconteceu.
-A vida tem de seguir para a frente.
-Tens aí dentro uma força enorme que não sei onde vais buscar!
-E tu? Esse sorriso? Onde é que o vais buscar?
-É a maneira mais fácil de encarar a vida. Não é fácil estar longe dos meus pais e irmãos mas se sorrirmos para a vida, ela também sorri para nós.
-Pronto! Vou começar a sorrir todos os dias!
-Fazias bem! O teu sorriso é lindo!
-Não digas essas coisas.
-Desculpa.
A conversa prolongou-se por mais uma hora, até que chegou a hora de voltar a casa. 15 minutos depois estava a estacionar à porta de casa.
-Mais um vez, obrigada por tudo! Obrigada pela ajuda, pelo carinho!
-Tu mereces isso! Mereces o melhor!-Abraçamo-nos e cada um seguiu o seu caminho.
Entrei em casa e a minha mãe ainda não tinha voltado. Dei de mamar ao Matheus e levei-o até quarto onde o deitei em cima da cama para começar a preparar a minha mala. As recordações más ficavam e as boas iam comigo, era esse o objectivo: voltar a ser feliz sem o passado a atormentar.
No Dia Seguinte...
Eram 13h quando aterramos no aeroporto de Madrid, onde apanhámos um táxi para Getafe. 35 minutos já estávamos em frente ao hotel.
Entrámos, fizemos o check-in e fomos arrumar as nossas malas naquele que seria o nosso quarto nos próximos dias.
Assim que entrámos no quarto o telemóvel da minha mãe começou a tocar, depois de poisar as malas atendeu-o. Conforme a conversa ia decorrendo, comecei a ficar preocupada.
-O que é que se passa?-Perguntei depois de ela desligar a chamada.
-O teu pai.
-O que é que tem o pai? Diz!
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Olá a todas!
E algum tempo depois estou de volta!
Espero que tenham gostado!
Opiniões? Fico à espera delas!
Un beso!
Sofia