sexta-feira, 27 de março de 2015

10-"O Matheus?"

Sai apressadamente de casa com intenção de procurar o Ezequiel mas essa intenção desapareceu. A brisa que se fazia sentir e o facto de não ter de olhar por cima do ombro com medo, fez-me sentir livre. Fez-me sentir segura. Porque é que o Ezequiel tinha desaparecido? Para ajudar? Ajudar, ajuda-se estando ao lado. Ele não o fez, agora também não serei eu a procurá-lo.Tinha sido essa a decisão que eu tomara naqueles primeiros minutos de liberdade. 
Nos minutos seguintes, senti a necessidade de de alguma maneira deixar para trás os dias horríveis que passei. Ocorreu-me uma ideia. Caminhei pela rua, parando em frente da porta do cabeleireiro. Mais uma decisão tomada. Entrei e fui logo recebida por uma senhora.
-Boa Tarde! Em que posso ajudar?

-Quero cortar o cabelo!- Depois de me lavarem o cabelo, mudei de cadeira. A senhora preparou tudo e pegou na tesoura.

-Como é que deseja o corte?

-Corte tudo!

-Tudo?-Disse saindo de traz de mim, passando para a minha frente.

-Sim, corte já o rabo de cavalo. Fica pelos ombros.

-Tem a certeza?

-Sim. Corte!-Ela assim fez, cortou o rabo de cavalo e começou a cortar o resto para ficar pelos ombros como eu tinha pedido. Era como se cada pedaço de cabelo que ela cortava, cortava cada momento mau que eu tinha passado. As agressões físicas, as agressões verbais, os abusos. Tudo parecia desaparecer por momentos naqueles fios de cabelos que caiam no chão. Algumas marcas ainda ficarão mas com o tempo vão desaparecer.

-Está pronta!- Tinha o cabelo pelos ombros, apesar de diferente do costume, eu gostava do que via ao espelho. Dirigi-me ao balcão onde estava um rapaz à espera do seu troco.

-Fica-lhe bem!-O rapaz falava espanhol. Por momentos estremeci, fez-me lembrar do...sim, do Ezequiel. A pessoa que me tinha abandonado.

-Obrigada!-Respondi-lhe também em espanhol. Ele sorriu. Eu também já tinha o meu troco. Ele abriu-me a porta e sai. 

-Desculpe...-Estava já pronta a subir a rua, quando o rapaz me fez voltar a olhar para trás.-Não quer ir tomar um café?

-Não bebo café.

-Um sumo? Um chá?

-Não, obrigada. Tenho o meu...

-Peço desculpa, deve ter o seu namorado à espera.

-Não, o meu filho.-Ele ficou um pouco surpreendido, não dizendo mais nada. Eu segui caminho até casa. Bati à porta, tinha-me esquecido da chave.

-Filha? O que é que te aconteceu?-Perguntou-me com se tivesse visto algum fantasma. Entrei e fechei a porta.

-Cortei o cabelo. Sinto-me melhor e mais leve assim.

-Se te fez bem, ficas bonita de qualquer maneira.

-O Matheus?-Matheus era o nome que estava no papel que a enfermeira me tinha entregue juntamente com a alta. Tinha também o significado: Dádiva de Deus, tal como ela tinha dito. E assim ficou.

-Matheus? O bebé?

-Sim.

-De quem é o bebé? Está lá em cima!

-Mãe...temos muito que falar. O bebé é meu filho.

-Teu?

-Sim! Eu estava no hospital porque ele nasceu.

-Então...

-Não, mãe não. No dia em que fui raptada já estava grávida.-Apesar de surpresa, ela sorriu. De alivio provavelmente, tal como eu quando soube.

-Como é que estás?

-Importas-te que vá só vê-lo e a seguir  já falamos?

-Não. Vai!-Percorri o corredor até ao meu quarto onde encontrei o meu príncipe, deitado no berço. No berço que tinha sido meu, deve ter estado sempre guardado na arrecadação. 

-Olá filho!-Disse, fazendo-lhe uma festa na cara.-Passaste por muito e foste um grande guerreiro mas a mãe promete que nada de mal te vai acontecer a partir de agora, vou estar aqui para te proteger. A mãe vai só conversar com a tua avó e volta já.

Voltei a percorrer o corredor ate à sala onde a minha mãe ainda me esperava. Um pouco impaciente. Estava na altura de lhe contar tudo.
-Como é que estás? Não acredito que passaste por isso tudo e eu não te pude ajudar.-Disse depois de eu lhe contar mas sem muitos pormenores, ainda me custa falar das coisas.

-Posso dizer que foram os piores meses da minha vida. Agora só queria recuperar forças e esquecer tudo com ajuda do meu filho e do...

-Ezequiel.

-Era isso mas esquece. Eu já decidi que não o vou procurar. Se ele queria ajudar, tinha de estar ao meu lado.

-E ele disse que iria sempre ter alguém que o informava da situação. Neste momento já deve saber que o Bruno foi preso. Mas o menino é filho dele.

-É isso que eu penso. Com a atitude dele nem merece saber que foi pai.

-Se ele não aparecer nos próximos dias, tens de seguir com a tua vida.

-Tenho as melhores pessoas ao meu lado para ganhar forças para isso não tenho?

-Sabes que eu estou aqui para tudo filha!-Disse abraçando-me.-E tens o filho mais lindo do mundo!

-Isso é baba de avó, isso sim!-Ele sorriu, fazendo-me uma festa na cara como quando eu era pequena.

-Tens de ir dar de mamar ao menino!

-Tenho? Ai mãe! Eu ainda não sei o que é suposto fazer nem a que horas.

-Não te preocupes! Eu ajudo-te agora nos primeiros dias!-Voltamos ao quarto onde ele já começava a abrir os seus pequenos olhos e a mexer-se muito. Devia estar mesmo na hora.

Dei-lhe de mamar sob indicações e concelhos da minha mãe. Depois voltei a deitá-lo. Sentia-me cansada e só queria uma noite de descanso.
-Mãe importas-te que vá dormir?

-Já? Ainda não jantaste!

-Não tenho fome. Preciso mesmo de descansar.

-Então vai dormir. Não aqui. Vai para o meu quarto.

-No teu quarto?

-Assim podes descansar a noite toda. Eu cuido dele.

No Dia Seguinte...
Acordei um pouco sobressalta por não saber bem que hora eram e por me ter esquecido que deveria ter acordado mais para dar de mamar ao meu menino. Fui até ao meu quarto onde encontrei a minha mãe a dar-lhe biberon .
-Bom Dia Mãe! Desculpa, desculpa!

-Bom Dia! Tem calma!

-Eu devia ter acordado.

-Estavas cansada e precisavas de descansar.-Depois de o pôr a arrotar, a minha mãe voltou a deitá-lo.

-Mas esta noite de sono, já me chegou para recuperar energias.

-Eu vou tratar do nosso almoço!

-Obrigada por tudo mãe!-A minha mãe saiu e eu aproximei-me do berço, o Matheus dormia serenamente. Retirei-o do berço, deitei-o em cima da cama e ali ficámos até ir almoçar. Aproveitei, ainda, para partilhar a notícia no Instagram.
Hoje começa uma nova vida. Obrigada pela força filho!

O início da tarde foi passada às compras para o Matheus. Não era aquilo que mais me apetecia mas ele precisava. Depois de voltarmos a casa, decidi ir passear junto ao mar.
-Mãe, vou dar uma volta!

-Levas o menino?

-Sim.

-Mas se precisares eu posso ficar com ele.

-Não. Aproveita para descansares. Obrigada- Respondi saindo com o carrinho do menino. O melhor que eu tinha à porta de casa, era a baia. Ali sinto-me bem, quando algo não está bem.

Caminhei junto ao mar mas depressa me sentei para descansar, ainda estava muito dorida para caminhar muito tempo. Estava a olhar para o mar quando alguém se sentou ao meu lado.
-Boa Tarde!-Aquela voz despertou-me, fazendo-me olhar para o meu lado direito.
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Olá a Todas!
Aqui está mais um capítulo!
Que estão a achar do rumo da história? Espero que estejam a gostar!
Quem é que acham que é esta pessoa que se sentou ao lado de Madalena? Fico à espera das vossas opiniões e palpites!
Beijinho,
Sofia

terça-feira, 10 de março de 2015

9-"…temos aqui um Príncipe!"

-Muito obrigada!-Esbocei um sorriso que também fez a enfermeira sorrir.

-Ora bem…temos aqui um príncipe!-Príncipe? Uma menino! Vai ser de certeza o meu príncipe.- E…está de 8 meses de gravidez!-Naquele momento o meu coração disparou. Estar de 8 meses significava que o filho não era do Bruno mas sim do Ezequiel. O que fazer agora?

-Obrigada, obrigada!-Estava muito feliz por aquelas notícias, agora só queria o meu menino nos meus braços para depois puder pensar no que fazer daqui para a frente.

-Se eu soubesse que era para a ver assim mais animada, tinha dito logo que sim!-As contracções estavam a aumentar e o momento mais anisado estava perto de acontecer.- Ainda não tem a dilatação correta mas vou já levá-la para a sala de partos.


Passaram cerca de quatro horas e as contracções começaram a ser muito seguidas e as dores foram aumentando. O medo era enorme e imaginar o momento mais ansiado deixava-me em pânico. Depois de várias horas assim, o momento chegou e o meu menino veio para os meus braços. Foi um momento de muitas lágrimas, sentia-me sozinha num momento que sempre sonhei acontecer um dia mas ao mesmo tempo sentia-me feliz, tinha nos meus braços o meu filho, o ser que cresceu dentro de mim estes meses e que amo mais que tudo neste momento.
-Tem ai um rapazão! Mesmo ainda faltando algumas semanas, ele já se tinha desenvolvido e cresceu o suficiente para não precisar de ir para incubadora.

-A sério? 

-Sim! É uma dádiva de Deus, esse menino!-Disse a enfermeira.-Como se vai chamar?

-Ainda não sei. Nunca pensei nisso.

-Enquanto o menino vai fazer alguns exames, pense nisso.

-Quanto tempo vai demorar?

-Provavelmente uma hora.-Dei um beijo na testa dele e de seguida, a enfermeira levou-o.

2 Horas Depois...
Já tinham passado duas horas e nada do meu menino voltar. Aquelas duas horas foram passadas a olhar para a porta com medo que a qualquer momento o Bruno entrasse pela porta do quarto mas isso não aconteceu, o que começava a ser estranho mas também um alívio. Quando a enfermeira voltou com o meu bebé, assustei-me. Mas eram só eles, o que me fez sorrir e ficar aliviada por mais tempo.
-Como é que ele está?

-Bem.

-Bem?

-Apenas o pulmão dele que não está 100% desenvolvido mas nada preocupante e não é preciso cuidados especiais.

-Ainda bem! Quando é que podemos sair?

-Talvez, amanhã ou depois de amanhã.

-Tanto tempo?

-Os exames tem de ser repetidos.

-Eu entendo!-A enfermeira foi chamada e saiu. Claro que não entendia. Se não eram precisos cuidados especiais, porque é que tinhamos de ficar? Eu só queria sair dali, antes que o Bruno voltasse. Precisava da minha casa, do meu espaço. Precisava da minha mãe, do Ezequiel, dos meus amigos. Não aguentava nem mais um  minuto naquele quarto, ansiosa e nervosa.

Vesti as minhas roupas que estavam num saco ao lado da minha cama, embrulhei o menino nas mantas em que ele estava tapado e preparava-me para sair quando a porta do quarto se abre.
-Esqueci-me de...-Para meu alivio era apenas a enfermeira mas tinha sido apanhada.-Onde é que vai? Você...

-Sim, eu ia fugir. Por favor, deixe-me ir. Por favor!

-Tenha calma!-Disse fechando a porta.-O que é que se passa?

-Passa-se que eu quero viver a minha vida com o meu filho. Se eu ficar aqui, a qualquer momento o meu ex-namorado pode voltar e é o fim da minha liberdade, o fim da minha vida.-Ela olhou para mim séria e pensativa, parecia estar a juntar as várias peças do puzzle.

-Pode aguardar apenas dois minutos, por favor? Agora sou eu que peço! Apenas dois minutos.

-Sim, eu espero.-Ela saiu e aqueles dois minutos pareciam horas. Acabou por voltar com um papel amarelo.

-Aqui tem!

-Isto é?

-O papel da sua alta!-Olhei para o papel e sorri-lhe.-Seja feliz!

-Muito Obrigada!

-O outro papel é apenas uma sugestão!-Não olhei para o segundo papel, apenas a abracei da maneira que pude visto que tinha o meu filho nos braços.

-Obrigada por tudo!

-Não me agradeça! Chamei-lhe um táxi, já está lá fora.

-Mas eu não tenho dinheiro.

-Já deixei dinheiro ao senhor.

-Não sei como lhe agradecer por tudo.

-Vá e aproveite tudo com o seu menino. Mas prometa-me que assim que puder volta, para ele repetir os exames.

-Sim, eu prometo!-Despedi-me dela e sai do hospital o mais depressa que pude. Entrei no táxi e aqueles 15 minutos pareciam uma eternidade. Cada vez me parecia mais estranho o Bruno não ter aparecido e cada vez que o táxi parava, eu tinha medo que ele aparecesse de algum lado. O menino dormia no meu colo.

Assim que chegámos, agradeci ao senhor e saí do táxi rapidamente. Toquei à campainha várias vezes e passado alguns segundos a porta abriu-se. Os meus olhos encheram-se de lágrimas que acabaram por escorrer pela minha cara. Pensava que nunca mais ia voltar a minha casa, voltar a olhar para a minha mãe!
-Filha! Minha filha!-Disse abraçando-nos, para depois me puxar para dentro de casa.

-Mãe, eu amo-te tanto! Pensava que nunca mais voltava a casa, que nunca mais te via!

-Onde é que estavas?

-O Bruno raptou-me.-Respondi ainda entre lágrimas.

-E ontem? Não estavas na casa dele.

-Ontem estava no hospital.Mas...como é que sabes?

-Ontem a polícia descobriu-o e foi lá a casa. Ele foi preso.

-Finalmente! O Ezequiel?-Ela olhou para mim séria e fixou o seu olhar no chão.-Mãe? O que é que aconteceu? Onde é que ele está?

-Não sei.

-Não sabes? Desapareceu também?

-Ele esteve comigo nas buscas no início mas depois quis afastar-se e nunca mais ouvi falar dele.-Não queria acreditar no que a minha mãe me dizia. Ele tinha-me abandonado?

-Já volto!-Coloquei o menino nos braços da minha mãe e encaminhei-me para a porta.

-Onde é que vais Madalena?

-Não te preocupes, eu volto daqui a umas horas. Toma conta do menino, por favor!-Não tinha contado ainda nada à minha mãe mas sabia que ela ia tomar bem conta dele enquanto eu não voltasse.
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Olá a Todas!
Mas um avanço nesta história que tem sofrido algumas mudanças e mais hão-de vir nos próximos!
Espero que estejam a gostar!!
Palpites para o próximo capítulo? Críticas? É tudo bem vindo nos vossos comentários!
Obrigada a quem está desse lado!
Besos,
Sofia